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[ARTIGO] Endometriose: uma patologia ainda desconhecida

Por Vilma Maria Silva, Médica Ginecologista (DQV/UFRPE) e Marina Ferreira de Medeiros Mendes, Coordenação de Saúde do Servidor- DQV/UFRPE

Endometriose é uma doença ginecológica crônica, benigna e multifatorial que acomete principalmente mulheres em idade reprodutiva. Define-se pela presença de tecido endometrial fora do útero, com predomínio na pelve feminina. É fundamental os profissionais reconhecerem os principais sintomas para realizarem o diagnóstico precoce. Infelizmente, ainda hoje, a média estimada do tempo entre o início dos sintomas até o diagnóstico definitivo é de aproximadamente sete anos. Os principais sintomas são: dismenorreia (cólicas), dores pélvicas, dispareunia (dores no intercurso sexual), alterações intestinais (distensão abdominal, sangramento nas fezes, constipação, dor anal no período menstrual), alterações urinárias (disúria, hematúria, polaciúria e urgência miccional no período menstrual) e infertilidade.

A ultrassonografia pélvica e transvaginal com preparo intestinal e a ressonância magnética com protocolos especializados são os principais exames e deverão ser realizados por profissionais com experiência. A endometriose pode ser dividida em três apresentações: superficial, ovariana e profunda. O tratamento clínico hormonal é eficaz no controle da dor pélvica e deve ser o tratamento de escolha na ausência de indicações absolutas para cirurgia, sendo os progestagênios e contraceptivos orais combinados as medicações de primeira linha para tratamento desses quadros, mas não deve ser oferecido para mulheres com desejo reprodutivo. O tratamento cirúrgico deve ser oferecido às pacientes em que o  tratamento clínico for ineficaz ou na presença de endometriomas ovarianos volumosos, lesões de ureter causando hidronefrose, lesões suboclusivas ou obstrutivas intestinais e lesões de apêndice. Existe grande associação entre endometriose e infertilidade; tanto a cirurgia quanto as técnicas de reprodução assistida podem ser oferecidas nesta condição.

A infertilidade pode gerar ansiedade e necessitar de auxílio da psicoterapia. Como o diagnóstico geralmente é tardio devido ao desconhecimento de parte dos profissionais e dificuldade de acesso ao tratamento principalmente na rede pública de saúde, esta enfermidade pode gerar inúmeros desconfortos como dores incapacitantes e prejuízo da qualidade de vida das mulheres.

Vale ressaltar que a queda da qualidade de vida, não ocorre apenas do âmbito físico e das morbidades advindas dos sintomas da endometriose. A doença causa significativos impactos psicológicos, tais como, dificuldades nas relações  interpessoais afetivas e na sexualidade, estresse, depressão e ansiedade, dentre outros. A abordagem desenvolvida por uma equipe multidisciplinar, representa um melhor plano de tratamento, permitindo a deteção imediata de sintomas psicopatológicos e físicos, o que resulta em desfechos mais positivos. O estigma social associado à endometriose é grande, pois ainda existe quem considere que dor menstrual é normal e que a mulher tem que aguentar, assim como dor durante a relação sexual. As campanhas educativas tem um papel importante na divulgação de informações, contribuindo para o diagnóstico precoce da endometriose e, também, para uma mudança de crenças e atitudes negativas,  estimulando a procura pelos cuidados de saúde.

Referências
Bellelis P, Dias JA Jr, Podgaec S, Gonzales M, Baracat EC, Abrão MS. Epidemiological and clinical aspects of pelvic endometriosis–a case series. Rev Assoc Med Bras (1992). 2010;56(4):467–71. 2 Carbone MG, Campo G, Papaleo E, Marazziti D, Maremmani I. The importance of a multi-disciplinary approach to the endometriotic patients: The relationship between endometriosis and psychic vulnerability. Journal of Clinical Medicine,202110(8).  https://doi.org/10.3390/jcm10081616.
Podgaec S, Caraça DB, Lobel A, Bellelis P, Lasmar BP, Lino CA, et al. Endometriose Protocolos Febrasgo, n. 32, 2018.
Sims OT, Gupta J, Missmer SA, Aninye IO. Stigma and endometriosis: A brief overview and recommendations to improve psychosocial well-being and diagnostic delay. International Journal of Environmental Research and Public Health, 2021;18(15), 1–12.